Estratégias para superar a inflação

1. Conceito de inflação

A Inflação refere-se ao processo do aumento contínuo dos preços dos bens e serviços numa economia. A medição da inflação é feita através do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), ou seja, através do preço médio de um cabaz de bens e serviços. Em Portugal, o IHPC é calculado pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

2. A importância da estabilidade de preços

A estabilidade de preços constitui o objetivo primordial do Banco Central Europeu (BCE), tal como estabelecido no Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia, e o BCE forneceu uma definição quantitativa do que isso implica. O BCE visa uma taxa de inflação anual “abaixo, mas próximo, de 2% no médio prazo”, conforme medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC).

A história mostra-nos como uma inflação ou deflação descontrolada pode ter efeitos trágicos para as economias e sociedades. Por exemplo a Hungria, após a II Guerra Mundial “imprimiu” muito mais dinheiro do que podia e a inflação “explodiu” tendo atingido a percentagem mensal de 41,9 quatrilhões. Também a Alemanha, após a I Guerra Mundial, entre 1922 e 1923, “imprimiu” mais moeda do que devia e a taxa mensal de inflação atingiu os 29.000%, ambiente esse que se veio a revelar perfeito para a ascensão de Adolf Hitler ao poder. Muitos outros exemplos poderíamos aqui referir, quer de um passado mais longínquo ou até mesmo da atualidade como é o caso da Venezuela (2.719,50%).

3. O risco de inflação é real?

O debate sobre o risco de inflação tem vindo a crescer nos últimos tempos. Recentemente, Warren Buffett disse “Estamos a ver uma inflação substancial” aos participantes da reunião anual de acionistas da Berkshire Hathaway.

Vejamos alguns indicadores estatísticos:

Taxa de inflação na União Europeia (inclui projeção)
Taxa de inflação nos Estados Unidos (inclui projeção)

O centro do debate reside na dúvida se o aumento da inflação nos próximos meses será temporário, refletindo a forte recuperação da recessão provocada pela COVID-19, ou será persistente, refletindo tanto o aumento da procura como o custo dos fatores de produção.

Os sinais de que os preços estão a subir são evidentes. A forte recuperação global da procura, impulsionada principalmente pela China, já está a pressionar os preços dos metais, alimentos e combustíveis. O cobre, um metal comum amplamente utilizado para tudo, desde residências, fábricas e telefones celulares até a transmissão de eletricidade, está a ser comercializado em ao seu nível mais alto desde 2011. Outros metais, incluindo minério de ferro e níquel, também estão a obter ganhos acentuados de preço.

A escassez temporária causada pela pandemia COVID-19 em setores como semicondutores, aço e transporte marítimo também está a ameaçar aumentar a inflação. Pesquisas comerciais sugerem que os preços dos consumos industriais estão a subir a um ritmo mais rápido da última década. Embora as empresas ainda não tenham repassado o fardo aos consumidores, elas podem ser levadas a mudar de rumo se a escassez persistir.

Por outro lado, temos a procura reprimida. As pessoas têm permanecido em suas casas há meses, o que resultou em centenas de bilhões de euros em dinheiro e depósitos bancários.

Quando os bloqueios são suspensos, espera-se que essas pessoas façam uma “farra” de gastos, comendo fora e saindo de férias – um aumento repentino na procura que as empresas atingidas pela recessão teriam dificuldade em atender. Isso levaria a uma situação em que muitos euros perseguiriam poucos bens, levando a um aumento dos preços.

De referir, todavia, que as preocupações com a inflação são maiores nos EUA do que na Europa, porque Washington injetou muito mais dinheiro na economia do que a zona do euro. A economia dos EUA também está a recuperar a um ritmo mais rápido, à medida que sua campanha de vacinação ganha força.

O aumento da inflação nos próximos meses será temporário? As opiniões dividem-se. Há quem acredite que a pressão nos preços veio para ficar, e será a nova tendência daqui para frente. Há quem acredite que a alta nos preços é temporária e vai se dissipar em breve, não havendo a necessidade de retirada de estímulos precoce.

Dentre os analistas que acreditam que o aumento da inflação não será temporário temos Michael J. Burry, conhecido por ter sido um dos primeiros profissionais do mercado financeiro a prever a crise do subprime americana; Louis Vincent Gave, sócio fundador da Gavekal, um dos maiores e mais bem-sucedidos researchs do mundo; Ray Dalio, gestor da Bridgewater Associates um dos maiores hedge funds do mundo.

Dentre os analistas que defendem o contrário temos Jerome Powell, Presidente do Federal Reserve; David Rosenberg, da Rosenberg Research, muitos anos economista chefe da Merrill Lynch; Anatole Kaletsky, também sócio fundador da Gavekal, uma das maiores research do mundo. 

Em qualquer dos casos não é expectável considerarmos a hipótese de hiperinflação, uma vez que os bancos centrais estão atentos, caso seja necessário irão intervir.

4. Estratégias para superar a inflação

Apresentamos três estratégias de investimento (médio e longo prazo) que podem ajudar a beneficiar as suas finanças com o impacto da inflação.

Investir no ouro

As commodities são uma proteção tradicional contra a inflação e o ouro costuma ser usado como um porto seguro para a riqueza durante os períodos inflacionários. Uma pesquisa do World Gold Council mostra que, entre 1974 e 2008, houve apenas oito anos em que a inflação nos Estados Unidos estava alta (5% ou mais). Durante esse tempo, os preços do ouro subiram em média 14,9%/ano, ultrapassando ativos como ações e outras commodities.

Investir no imobiliário

Os preços dos imóveis tendem a mover-se em linha com a inflação e, por essa razão, os imóveis são uma grande proteção contra a inflação. Os investidores que procuram proteger suas carteiras contra a inflação ajudaram as ações do setor imobiliário a liderar o S&P 500 nas últimas semanas. O setor imobiliário, voltado para empresas que alugam imóveis, ganhou 13% neste trimestre, mais que o dobro do ganho de 6,3% do índice de ações.

Investir no mercado de ações

Uma carteira de ações bem diversificada pode atuar como um hedge no longo prazo se as empresas forem capazes de se ajustar aos custos de consumos mais altos aumentando seus próprios preços ou mudando para consumos alternativos.

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